Um estudo inédito, produzido em parceria pelo Instituto de Saúde Coletiva da Ufba, Ifba e a entidade internacional Wiego, vai mapear as condições de saúde de homens e mulheres que atuam no mercado informal de trabalho. O trabalho, que ficará pronto em cinco anos, vai abranger, pessoas que atuam como entregadoras, motoristas por aplicativo, domésticas, ambulantes, dentre outras categorias. Batizado de GIST, o workshop para debater o estudo reuniu pesquisadores e trabalhadores na sede do ISC, na Ufba, nesta terça e quarta-feira (11 e 12).

Para uma das coordenadoras do projeto, a britânica Christy Adeola Braham, da Wiego, que também lidera pesquisas internacionais nas áreas de proteção social e mulheres trabalhadoras informais, a informalidade adoece mais, pois trabalhadores são submetidos a altos níveis de estresse. “É preciso que  eles tenham dignidade. Hoje essas pessoas sequer participam das decisões que estão relacionadas às suas próprias vidas. Isso é a chave para mudar as relações entre a saúde e a vida do trabalhador”, avalia.

No Brasil, a média de trabalhadores na informalidade é de 40% e no mundo eles já são maioria. De acordo com Christy Adeola Braham, a situação da saúde é crítica e seus maiores riscos são concentrados em categorias como vendedores ambulantes, trabalhadores domésticos, motoristas por aplicativo

Graça Costa, secretária de Organização Política Sindical da Central Única dos Trabalhadores (CUT Nacional) e também presidente do Diap – Departamento Intersindical  de Assessoria Parlamentar (Diap) destaca que o estudo permitirá a investigação direta entre o adoecimento do trabalhador e suas atividades, como e de que forma elas contribuem para o agravamento dos seus estados de saúde. “Já tem um primeiro esboço, de uma primeira coleta de informações, de questionários que foram feitos com trabalhadores em diversos estados. A partir disso, com esses dados, podemos trabalhar tanto a organização dessas pessoas como também pensar nas políticas públicas, nas reivindicações que nós temos que fazer para o governo, nas três esferas: municipal, estadual e federal, principalmente o municipal, que é onde tem uma relação direta com os trabalhadores”, explica.

Graça ressalta que a degradação ambiental e o aquecimento global devem exercer grande impacto sobre os trabalhadores informais, que são invisíveis perante alguns segmentos da sociedade.

Dados preliminares da pesquisa mostram que a maioria das pessoas que atuam no trabalho informal é formada por mulheres e, dessas, 90% são negras. Além disso, a média de renda dos trabalhadores informais é de R$ 900,00, considerada muito baixa.

A ausência de dados e de notificações de doenças é considerada por Graça Costa como grande entrave. “Pois os trabalhadores acabam não tendo acesso ao Sistema Único de Saúde. Lá na frente, uma das coisas que nós vamos reivindicar dos governos é exatamente essa questão da notificação desse atendimento que é feito.

Diretora da Secretaria de Saúde do Trabalhador do Sindprev e dirigente da CUT na Bahia, Alindaí Santana acredita que ouvir esses trabalhadores para a produção do estudo é um importante passo. Ela classifica a precarização do trabalho como o maior causador de doenças oriundas do trabalho. Para ela, a inserção do tema no Sistema Único de Saúde será uma grande vitória para os  trabalhadores informais.